Cantora, atração desta sexta-feira no
Chevrolet Hall, é a renovação no segmento feminino sertanejo.
A jornada começou cedo. Aos dez anos, veio o primeiro disco. Aos 12, um
contrato com uma companhia de rodeios e a oportunidade de rodar o
Brasil com a missão de encantar sobre os palcos. Paula Fernandes saiu
das entranhas de Minas Gerais para cantar os sentimentos, as desventuras
do amor e, a exemplo da tradição sertaneja do país, os aspectos da
natureza. A trajetória penou até encontrar o reconhecimento. A
reviravolta viria com a celebração de um contrato com a gravadora
Universal (em 2008) e a parceria com o rei Roberto Carlos (em 2010)
durante gravação de especial de fim de ano diante de 700 mil pessoas. Em
pouco tempo, o suor vingou.
A cantora de Pássaro de fogo
brilhou para a audiência brasileira. E mundial. Em 2011, tornou-se o
nome mais procurado no Google, liderou as vendas de álbuns no Brasil e
atingiu a 27ª colocação na lista dos mais comercializados
internacionalmente. Da fama para a carreira, Paula manteve a
simplicidade. Continuou a rotina de shows pelo Brasil com o jeito suave
de cantar e a serenidade na hora de arrebatar fãs. E foram muitos. No
canal do YouTube, há vídeos com mais de 35 milhões de visualizações. No
Facebook, as “curtidas” ultrapassaram 1,7 milhão.
No plano
sertanejo, embora a cantora procure se desvencilhar do rótulo de música
brejeira, o sucesso reaqueceu a história das divas do gênero. Desde
Roberta Miranda, a terceira voz com mais discos vendidos no país, o
estilo brotado dos grotões brasileiros ansiava por um timbre capaz de
manter a fibra musical feminina do interior. Desde a década de 1940, as
mulheres se lançaram ao mercado predominantemente formado por homens.
Enfrentaram limites sociais imposto pelo machismo, as barreiras
familiares e até mesmo o gosto do público afeiçoado mais aos cantores em
virtude do sentimentalismo das canções
Mas o sertanejo
de saias venceu. E Paula, hoje, serve de farol bem-sucedido para
cantoras do desdobramento do gênero universitário enveredarem pela
profissão. É a vitória da resistência caipira brasileira.
Abaixo,
uma entrevista com a cantora, que se apresenta hoje no Recife, no
Chevrolet Hall, sobre a carreira e a vida:
- As
tuas letras passeiam pelas emoções com uso elegante de metáforas
associadas a elementos da natureza. O amor realizado, a ausência do
companheiro, os sonhos alimentados. O coração está todo ali. A
inspiração reflete o que você é, vive e o ambiente onde cresceu? Ou é
uma livre criação? Como é teu processo criativo?
Normalmente
o compor é muito particular e intenso, uma situação, uma sensação, um
cheiro, tudo pode me inspirar. Para começar a compor basta ler uma frase
bonita, ouvir uma canção. Às vezes acordo no meio da noite para
compor...Meu processo criativo é totalmente intuitivo. Só componho
quando a inspiração vem, e ela não tem hora nem momento pra chegar. É
bom falar do que as pessoas sentem. Do cotidiano, dos sentimentos de uma
forma mais pura. Me sinto duplamente responsável, porque além de cantar
as canções, sou eu quem transmite as mensagens.
Você
é dotada de uma bela voz e compõe as próprias músicas. Onde se sente
mais feliz: na pele de cantora ou de compositora? Sou realizada
com as duas coisas, não consigo imaginar uma sem a outra.
Que
mensagem você quer passar com as suas músicas? Como quer que cheguem e
se traduzam na realidade de quem as ouve? Quero passar a minha
verdade, por isso acho importante compor.
Você nasceu
musicalmente sob o manto do gênero sertanejo. O que conserva do estilo e
o que te liberta dos rótulos? Incomoda quando te definem? Por quê?
Não
gosto de rotular minha música, já que também sou compositora. Prefiro
não me reprimir e deixar a inspiração fluir, como for...
Você
cantaria axé, pagode, samba, rock ou outro ritmo? Pensa nisso? O que
falta para isso acontecer?
Se algum dia eu tiver
inspiração para compor um samba, farei com prazer.
Durante anos, o estilo sertanejo sofreu na avaliação dos
críticos. Hoje, parece ser mais valorizado e tem variações, como o
segmento universitário. O preconceito ainda existe? Você já foi
subestimada, menosprezada por vir desse gênero? O que mudou?
Como
a música sertaneja sempre foi muito marcada por duplas, foi mais
difícil conquistar meu espaço como voz feminina, mas tudo mudou
bastante, inclusive com a incursão de cantores solo. A música sertaneja
tem se renovado bastante, hoje o movimento sertanejo está muito forte,
inclusive entre os jovens.
Você
tem anos de estrada, mas “existiu” para o Brasil em larga escala depois
de aparecer ao lado do rei Roberto Carlos – embora desfrute de um
talento inegável. Com base na tua experiência profissional, o que impede
e o que ajuda a fazer sucesso no mercado da música brasileira?
Talento e ter pessoas que acreditam em seu trabalho é
fundamental, no meu caso ter assinado contrato com a gravadora Universal
foi um divisor de águas em minha carreira.
Você
tem o trabalho inscrito na lista dos discos mais vendidos, possui uma
legião de milhões de fãs, é cultuada na vida real e na internet. De
forma franca: por que você faz sucesso? Por que as pessoas gostam de
Paula Fernandes?
Porque sou verdadeira.
Você tem feito parcerias ao longo da carreira. Recentemente,
cantou com Taylor Swift. Com quem ainda gostaria de dividir o palco ou
uma composição? E quem são teus ídolos na música, o que você ouve?
Sou muito eclética, tem muita gente boa que gostaria de fazer
parceria, mas tem de ser uma coisa bem pensada e acima de tudo com as
características em que acredito.
Os corpetes já se
tornaram marca das suas apresentações. Usa porque gosta ou é uma
estratégia para assegurar uma identidade sobre os palcos? Tem receio de
ficar estigmatizada?
Não, como já
disse, tenho muita personalidade e sei exatamente o que quero e do que
gosto.
A imagem parece ser uma questão importante na
sua vida: além do corpete, os clipes das músicas são bem trabalhados e
encenados por você. Que relação você estabelece com a beleza e a vaidade
(no trabalho e na vida)? Até que ponto gosta de alimentá-las?
Minha
vaidade é sadia, em sempre penso em levar o melhor, por isso, sou
cuidadosa e criteriosa em tudo que faço.
Fora dos
palcos e da rotina de trabalho, o que ocupa Paula Fernandes? Tem um
hobby, uma rotina, uma mania? O que te faz chorar e sorrir?
Adoro
cavalos, campo..natureza. A mentira me deixa triste e o sorriso de
minha família e amigos me faz feliz.
Usa muito a
internet? Profissionalmente ou pessoalmente?
Uso. Gosto
de compartilhar minhas alegrias e momentos especiais em meu tt.
Você lançou o primeiro disco aos dez anos. Quando olha a
estrada percorrida desde então, o que julga ter valido a pena, o que
queria ter mudado?
Sinceramente, olhando para trás vejo
que fiz tudo de maneira certa, mesmo imaginando diferente em outras
épocas.
Quem é Paula Fernandes hoje dentro do espectro
da música brasileira? Com o que ela ainda sonha?
Sou
uma pessoa abençoada que tenho uma missão de emocionar as pessoas. Esta
missão, quero levar até o final. Sonhar sempre!
Existe
algo que, em qualquer entrevista já feita, você teve vontade de falar,
mas nunca perguntaram?
Não, só gostaria de agradecer à
todas as pessoas que acreditam no meu trabalho e, dizer que tudo que
faço é com muita paixão.
Via: Diário Pernambucano.
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